Com gestos de simplicidade e uma liderança comprometida com a justiça social, o diálogo inter-religioso e o cuidado com o meio ambiente, o Papa Francisco — sepultado no último sábado (26), na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma — construiu um pontificado marcado por transformações profundas. Seu legado segue vivo, especialmente no campo da educação e da formação de uma consciência ecológica que inspira escolas, comunidades e novas gerações ao redor do mundo.
Um dos marcos de seu pontificado foi a publicação da Encíclica Laudato Si’: sobre o cuidado da Casa Comum, em 18 de junho de 2015. Com seis capítulos e 246 tópicos, o documento representou uma ruptura na abordagem ambiental da Igreja ao tratar, pela primeira vez de forma ampla e sistêmica, dos desafios ecológicos do planeta.
Inspirado pelos ensinamentos do Papa, o Colégio Santo Agostinho deu início a uma jornada profunda de transformação pedagógica e cultural. A Escola, que já vinha abordando a questão ambiental desde 2011 com a criação da Plataforma Terráqueos — que visa a relação consciente e responsável entre Pessoas, Planeta e Animais —, encontrou na Encíclica a base teológica e ética para ampliar seu compromisso com a sustentabilidade.
“A ecologia integral não é apenas um conceito, mas um valor que orienta a nossa Instituição. Compreendemos que ela integra três dimensões fundamentais: a humana, a social e a ambiental. Na nossa proposta pedagógica, ela nos guia no compromisso de formar uma comunidade escolar consciente, capaz de enfrentar os desafios do mundo atual. E essa visão está profundamente conectada com a espiritualidade de Santo Agostinho, que inspira nossa prática educativa e nossa reflexão interior”, destaca o frei agostiniano Paulo Cintra, que integra a Província Nossa Senhora da Consolação do Brasil – responsável pela mantenedora do Colégio Santo Agostinho.
Foi dessa convergência de valores que nasceu o livro “Laudato Si’ e a Educação: Qual a parte nos cabe?”, em 2015, escrito por Aleluia Heringer, então diretora da unidade Contagem e líder em sustentabilidade da Instituição. “A educação precisa formar cidadãos para viverem em 2025, 2050, quando os impactos socioambientais estarão ainda mais intensos. Precisamos educar com uma nova perspectiva, diferente daquela que nos formou”, escreveu Aleluia Heringer na introdução do livro.
A obra foi reconhecida diretamente pelo Vaticano: em março de 2018, Aleluia recebeu uma correspondência do Monsenhor Paolo Borgia, assessor da Secretaria de Estado do Vaticano, transmitindo os agradecimentos do próprio Papa Francisco pela homenagem.
Institucionalização da Ecologia Integral
O movimento ganhou força na Instituição em 2017, quando a proposta de Ecologia Integral, nascida na Unidade Contagem, foi ampliada para todas as unidades do Colégio Santo Agostinho. Fundamentada nos ensinamentos da Encíclica Laudato Si’, a Escola passou a reforçar a urgência do cuidado com a “Casa Comum”. O documento papal denuncia o desenvolvimento irresponsável e o consumismo, ao mesmo tempo em que convoca a humanidade a assumir a responsabilidade de preservar a natureza em todas as suas formas.
Inspirado por esses princípios, o Colégio criou em 2017 o Grupo de Trabalho, Envolvimento e Iniciativa Ambiental (GTEIA), com a missão de aprofundar a Ecologia Integral no ambiente educacional, por meio de ações colaborativas e transformadoras. O Colégio também intensificou suas ações com envolvimento direto dos estudantes. Um projeto, que contou com a participação de 50 alunos do 8º ano do Ensino Fundamental à 3ª série do Ensino Médio de todas as unidades, além de 20 colaboradores, deu origem a um Guia de Boas Práticas. No material foram listadas as práticas que eles próprios se comprometeram em realizar no dia a dia da Escola.
Em 2021, a pauta ganhou status estratégico com a criação da área de ASG (Ambiental, Social e Governança). A Escola passou, então, a se consolidar como referência no campo da sustentabilidade educacional. No ano seguinte, o grupo de trabalho evoluiu e passou a se chamar GTEIAS — Grupo de Trabalho, Envolvimento, Iniciativa Ambiental e Social — integrando as múltiplas teias das temáticas socioambientais dentro da Instituição.
“No Colégio Santo Agostinho, a encíclica Laudato Si’ inspirou mudanças reais. Ela transformou não só a forma como a Igreja vê a crise ambiental, mas também o papel das escolas. Aqui, esse ensinamento virou ação e educação”, pontua Frei Paulo.
O último Relatório de Sustentabilidade da Rede Lius Agostinianos destaca os avanços obtidos pela Instituição, como por exemplo a implementação do plano de gestão de resíduos nas quatro unidades do Colégio Santo Agostinho (Belo Horizonte, Contagem, Nova Lima e Escolas Sociais), com meta de Aterro Zero até 2030. Os dados revelam a compostagem de 33,78 toneladas e a reciclagem de 35,25 toneladas de resíduos, além da mensuração da redução nas emissões de carbono.
Um legado que continua
O Papa Francisco deixou um marco na história da Igreja ao colocar a ecologia integral no centro do debate. Para Frei Paulo, seus ensinamentos seguem vivos, especialmente na educação de jovens conscientes e comprometidos com o cuidado da “Casa Comum”.
“O cuidado com o meio ambiente não começa com o Papa Francisco, mas ele deu novo fôlego à causa. Seu pontificado já gerou frutos importantes e continuará influenciando a Igreja nos próximos anos.”
Frei Paulo lembra que, no Brasil, temas ambientais já faziam parte das Campanhas da Fraternidade, mostrando que essa preocupação vem da realidade e precisa de respostas urgentes. “A natureza nos impõe limites. Não há mais como ignorar essa pauta.”
Ele acredita que a missão continuará com o próximo Papa e com toda a Igreja, pois o cuidado com o planeta é um compromisso coletivo.
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